quinta-feira, 26 de março de 2015

A DIREITA SENSÍVEL

Marcello Caetano

 

"(...) muita pobreza, salários baixíssimos, desrespeito de horário de trabalho na indústria e nas obras públicas, exploração de menores; as Casas do Povo reduzidas a museus de folcore, etc."

(carta de Marcelo Caetano a Salazar sobre as suas férias em Trás-os-Montes e Minho, citado por Filipe Ribeiro de Meneses in "Salazar")


Como seria simples se esta 'sensibilidade' fosse apanágio somente dos homens de esquerda!... Para simplificar a política é preciso cortar todas as pontes. Reduzir todo o espaço para a dúvida.

O mundo assim contraído revela-se então de uma lógica muito próxima da razão. O racional mede-se pela sua eficácia. E quem a pode negar a uma tecnocracia que seduz as 'massas' no seu próprio aprisionamento e que lhes proporciona, ainda por cima, o conforto do não-político, isto é, da insignificância da dúvida?

A ditadura é o mais antigo instrumento desta 'simplficação'. Com ela cessa, de facto, a política (ou tudo se converte nela, o que vai dar ao mesmo). O regime soviético foi o maior esforço até agora feito de uma supressão do político por submersão de todas as funções da sociedade e do Estado na política. É por isso que esse regime se assemelha, no fundo, a uma tecnocracia (mais do que burocracia, o domínio das pseudo ciências sociais).

Como dizia Tony Blair (citado por Peter Mair in "Ruling the Void"), em 2001, "A política neste sentido já não é sobre o exercício da 'mão directiva' ('directive hand') do governo, mas sobre a sinergia que pode ser gerada pela combinação dos 'mercados dinâmicos' e de 'comunidades fortes'." Coisas, para nossa educação, já experimentadas por Reagan e Thatcher.

 

 

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