quarta-feira, 4 de março de 2015

CALÍGULA E A LÓGICA

 

"As coisas que têm de ser tidas por certas perdem a sua força quando surgem na forma de proclamações arbitrárias...Fazer erradamente com que certas matérias sejam legisláveis resulta apenas na limitação, se não na anulação completa, daquilo que se tenta salvaguardar."
(Henry Kissinger)


O desejo da precisão e do rigor tem o seu lugar nas ciências da natureza (enquanto lidarmos com as 'coisas próximas', porque quando especulamos sobre o universo esse desejo não pode ser satisfeito.) A crença é, nesse caso, mais 'humana' e, por isso, mais verdadeira. A fé nos chamados 'mundos paralelos', por exemplo, vale tanto como a fé nos modelos de certos economistas. A diferença é que a física teórica mais 'arrojada' não corre o risco das teorias económicas de ser posta à prova.


Claro que gostei de ver, no maravilhoso "Interstellar' de Cristopher Nolan, a 'materialização' em imagens da teoria dos 'mundos paralelos'. No filme, a questão da realidade desses mundos não se põe, como ninguém questiona a realidade do Cavalo de Tróia. Em toda a arte, basta que as coisas façam sentido.

Legislar sobre aquilo que desconhecemos como funciona, apenas pela vontade de poder, ou de 'esquadria' (porque a estética também nos leva a cometer erros), pode resultar, como diz Kissinger, em prejuízo do essencial.

Devemos ter sempre presente que qualquer sistema totalitário, por muito bárbaro que possa parecer, não deixa de ser uma construção racional. E a lógica também inspirava um célebre tirano que desejou ter todas as cabeças de Roma reduzidas a uma só, para as cortar de um só golpe.

 

 

0 comentários: