segunda-feira, 23 de março de 2015

ALEXANDRIA

Alexandria

 

"Por que é que as pessoas não deveriam mostrar mais do que um perfil ao mesmo tempo?"


"Justine" (Lawrence Durrell)


Justine é uma personagem caleidoscópica. Será por isso que é misteriosa? Já alguém disse que a superfície é o que há de mais profundo no homem. Porque esta figura central do "Quarteto", personificação de uma Alexandria incestuosa e sexualmente ambígua, não tem um perfil, digamos assim, 'responsável'. Ela deixa-se ir como os papiros na corrente do Nilo.

Nem se pode dizer que seja uma espectadora do que lhe acontece. É uma incarnação meio voluntária da cidade espúria, miscigenada. Daí a reivindicação da pluralidade.

Não há dúvida que Durrell inventou esta cidade e convida-nos a ver nela o verdadeiro sujeito do romance.

Quando admitimos que a cultura e o clima do país moldam aquilo que somos uns para os outros, pelo mesmo passo recusamos que sejam 'determinantes'. A verdade é que apuramos o 'perfil' involuntariamente 'negociado' (ou traficado) com os outros, à custa do que poderíamos também ser.

É a esse sacrifício que Justine julga poder eximir-se...por endosso à cidade cosmopolita.

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