sábado, 28 de junho de 2014

SORRISOS ANTI-MODERNOS


"O meu tio" (1958-Jacques Tati)




"- Mas é tudo tão vazio!
- Oh, não! É moderno. Tudo comunica."
"Mon oncle" (Jacques Tati)


Tati delicia-nos com o seu anti-modernismo bem intencionado.

Ele não perde uma oportunidade para troçar do último gadget e do arrivista que o incensa.

Os cães vadios, em que se misturam as classes e a irreverência urinária é da praxe, são o símbolo duma convivialidade que alguns homens perderam.

Hulot, esse homem-catástrofe que desarma a modernice, dependurado no seu eterno cachimbo, pela sua parte, insiste na vadiagem e, como Pessoa, continua a fugir a qualquer tentativa de o tornarem "fútil, casado e tributável".

Em vez da telefonia, prefere fazer reflectir o sol da sua vidraça sobre a gaiola da vizinha e ouvir a alegria dum canário.

Mas já não há burguesas a correr com o paninho para limpar os cromados do carro novo que o marido tira da garagem.

Esse ridículo de outro tempo é talvez o que nos faz sentir alguma simpatia por esse casal que se deixou capturar vivo numa prótese.

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