segunda-feira, 30 de junho de 2014

CUPIDO

Uma lição de amor (Ingmar Bergman)

 

"O amor é terrivelmente estável, e a cada um de nós está destinada apenas uma certa parte, uma ração. É capaz de aparecer numa infinidade de formas e prender-se a uma infinidade de pessoas. Mas está limitado em quantidade, pode consumir-se, tornar-se gasto e deslavado antes de atingir o seu verdadeiro objecto. Porque o seu destino reside nas mais profundas regiões da psique onde virá a reconhecer-se vivo e independente, o terreno sobre o qual nós construímos a espécie de saúde da psique. Não quero dizer egoísmo ou narcisismo."

"The Alexandria Quartet" (Lawrence Durrell)

 

Esta mistura de espírito e quantidade parece chocante. Já Simone Weil pretendia converter a atenção religiosa em energia operando no mundo entre as restantes forças. Ao ponto de imaginar uma fórmula de equivalência entre o que se pede a Deus, através da atenção absoluta, e o que Ele não poderia deixar de dar-nos como resposta.

Por outro lado, seria muito estranho que aquilo a que chamamos o amor (a entrega) não viesse dum recôndito amor pela vida e pelo nosso próprio ser.

Não sei se se pode falar em quantidade e numa certa 'economia' a este propósito. Mas é o mesmo que dizer que a sorte regula estas coisas e que o Amor é caprichoso como diz Bergman em 'Sorrisos de uma noite de verão' ou numa 'Lição de Amor'.

Aliás, o primeiro a evocar a 'economia' foi Platão, com a sua alegoria da pobreza e da riqueza. O Amor é pobre porque tem fome.

 

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