segunda-feira, 3 de junho de 2013

QUARTETO

 

O primeiro filme, como realizador, do actor Dustin Hoffman é uma bela surpresa.

"Quartet" (2013) é uma comédia que reúne grandes talentos, desde a incomparável Maggie Smith que está tão à vontade no papel da condessa (dowager countess) de Downton, com a sua 'morgue' e os seus preconceitos de classe (prontos para serem quebrados depois de muito 'som e fúria'), como nesta decadente prima-dona que, ao mesmo tempo, nos pode dar a ideia de uma eterna juventude, porque o olhar e a vivacidade irrompem a todo o momento da 'velha carcaça', a actores como Tom Courtenay de quem todos nos lembramos no filme de Lean (Dr. Jivago) por ter passado do ingénuo revolucionário, marido de Lara, ao burocrata da morte no seu comboio-quartel-general.

A acção passa-se numa bela mansão que acolhe um grupo de músicos reformados ingleses. Alguém teve a ideia de 'ressuscitar' o quarteto do 'Rigoletto', numa gala dedicada a Verdi, pelos intérpretes que num passado mais ou menos distante obtiveram um grande sucesso, para acudir ao financiamento da instituição. Pelo meio, há o reencontro entre Jean Horton (Maggie Smith) e Reginald (Tom Courtenay) e a viva oposição daquela à ideia de 'manchar' a memória do que foi com um arremedo que puxaria à comiseração.

Jean é a única a pensar assim, encerrando-se no sarcófago da grande 'diva' para o resto dos seus anos. É o amor de Tom e o exemplo dos outros (aliados ao despique muito feminino com outra cantora que ficaria com o protagonismo) que a fazem deixar essa intransigência.

Para cada idade, a sua perfeição. Jean quebrará, talvez, nos agudos, mas fará algo que dará sentido à vida de todos. Mesmo longe da perfeição técnica de que foram capazes no passado, esses músicos consagrarão, afinal, a ideia de que a música é sobretudo humana e que um ouvido realmente sabedor não deixará de ouvir os verdadeiros acordes.

Será por isso que se pode ser perfeito, mas sem alma.

 

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