segunda-feira, 17 de junho de 2013

A SISTINA

Miguel Ângelo

 

"Ficou sozinho, encerrado na capela com alguns trabalhadores, como Giovanni Michi, e longe de concordar com os que diziam, para abater a sua coragem, que se tratava duma empresa de grande dificuldade, alargou o seu plano, e decidiu pintar não só o tecto, mas as paredes até aos velhos frescos em baixo."


"Michel-Ange" (Romain Rolland)

 

Miguel Ângelo já não tinha que provar a ninguém o que quer que fosse e tudo fez para afastar o 'cálice', mas não era isso o que Júlio II queria, nem o que os seus rivais alegadamente queriam. E, assim, o que no nosso tempo mais contribui para a sua fama, os frescos da Capela Sistina, é mais o resultado de uma aposta louca do que de uma inspiração acalentada. Ele era um escultor e nada sabia de cores. Mas a inveja de Bramante, o arquitecto de S. Pedro, que o invejava também por causa do seu próprio sobrinho, Rafael, para quem desejava a comissão papal, desafiou Miguel Ângelo a ultrapassar-se a si mesmo.

Como diz José Mattoso ("Levantar o Céu"), "Estou a falar também de uma infinidade de desconhecidos que se deixaram apaixonar pela arte, isto é, de quem se entregou sem medida à música, à pintura, à literatura, à cinematografia ou à dança (...)"

A Sistina é um desses torvelinhos que absorvem todas as forças do indivíduo, e a que ele se entregou 'sem medida', sem cálculos de nenhuma espécie, onde jogou a saúde, a felicidade ou o simples prazer, por causa de uma ideia transcendente que não se saberia e explicar, senão ardendo no seu fogo.

Esta figura trágica representa, muito melhor o destino de Prometeu que o cerebral Da Vinci, a quem tudo parece acontecer pela graça divina. O outro é pecador e orgulhosamente assim.

 

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