quinta-feira, 6 de junho de 2013

OS LOBOS

 

"É o ciclo de desastres habitual. Começa com o exagero e a sobreponderação e, em seguida, instala-se a negligência."

(Daniel Kahnemann)

 

Sabemos todos que o grito é um sinal de perigo e que é eficaz mesmo antes de pensarmos. Eficaz, por exemplo, para estacarmos ou corrermos antes que a telha nos caia em cima.

Quando empolamos os factos é porque queremos levar os outros a reagir, apresentando o perigo ou o prazer como justificação para não pensarem.

Mas, como na história do rapaz que alarmava a aldeia por causa de um lobo que andava longe, o exagero leva-nos a ser mais descuidados ainda do que antes. Só nos vêm à mente as mentiras do rapazola, e a memória de outros tempos em que os lobos atacavam a aldeia deixou de 'estar em cena'. Parece, quando se fala nisso, uma fábula para assustar as criancinhas.

Alan Greenspan, o ex-governador da Reserva Federal que não foi capaz de antever a crise de 2008, conhecia a história da maior crise do capitalismo, mas depois de anos e anos de doutrinação pelos gurus do sistema desregulado, convenceu-se que uma grande crise era uma espécie de 'cisne negro' que não podia acontecer no tempo da sua vida, nem na dos seus netos.

Claro que a negligência perante o perigo deste e doutros 'decisores' foi muito facilitada pelo persistente desejo de continuarem a viver num mundo milionário.

Mas nada é pior, depois disso, do que encarregar os 'lobos' de salvar a aldeia. É tão perverso que só pode ser 'natural'. Nos lugares de decisão não havia mais a quem recorrer...

 

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