sexta-feira, 21 de junho de 2013

DYNAMIS

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"O poder é o que mantém o domínio público, o espaço potencial que aparece na existência, entre homens que agem e que falam. A palavra mesma, o seu equivalente em Grego, 'dynamis',...indica o seu carácter potencial. O poder é sempre, como diríamos, um poder potencial e não uma entidade intermutável, mensurável e confiável como a força ou a resistência."
(Hanna Arendt)

Não conheço uma definição do poder tão clara e convincente, e, ao mesmo tempo, tão contrária à ideia que dele se tem nos tempos modernos.

De facto, prevalece incontestada nos espíritos a confusão entre a força (física, mecânica, mlitar, do 'aparelho de Estado') e o poder, na acepção que lhe é dada por Arendt.

A sentinela que vigia a nossa segurança durante o sono e a polícia que impede que o caos se instale na cidade, permitindo a acção e o discurso inerentes à política parecem, assim, ser meios para a existência do poder, que é a condição para haver um 'espaço público', não sendo eles, nem o próprio Estado, esse poder.

No entanto, este conceito tão 'feliz' e tão de acordo com a liberdade ateniense, ou com a utopia a que deu lugar durante séculos de admiração, é muito provável que se tenha tornado anacrónico, devido à história política e sobretudo técnica do controlo do espaço público. A primeira consequência dessa evolução é que, de facto, os meios dominam de tal modo o poder 'potencial' que, em muitos casos, trocaram de posições. São verdadeiros instrumentos da força.

Mas já não se trata, claro, da 'força' pessoal, mas de um sistema de forças, eternamente em desequilíbrio.

Quando vemos o que se está a passar no Brasil, não podemos deixar de pensar que a tecnologia está a dar outros usos à palavra para lá do 'espaço público', tal como o descreveu Hannah Arendt.

Novos actores entram fugazmente em cena para desaparecerem logo de seguida, o que parece mais um sobressalto do 'Grande Animal' de que fala Platão do que um qualquer ressurgimento da política. É que o 'Grande Animal' tem cada vez mais uma consciência corpuscular (ou crepuscular?) da sua própria força.

 

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