domingo, 11 de novembro de 2007

OVNIS


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Para quem pretende transformar o mundo, do céu nunca vem nada de bom. Por isso, o fenómeno dos ovnis lhe é altamente suspeito. Há por detrás de cada superstição um explorador do homem, e quanto mais andar o povo com o nariz no ar, menos atenção dedica a quem lhe vai ao bolso. Todas as forças são precisas para a luta de classes. O jornalismo que entretém as pessoas com os discos voadores está ao serviço da direita, e o governo bem pode folgar as costas se apanha tanta gente distraída.
Graças à doutrina, tudo se pode compreender com o tempo pelo próprio progresso das ciências. Mas há que escolher hoje em termos políticos. O extraterrestre é um criador da unidade humana, e esse é o princípio da religião. Trocar as pessoas de Deus pela dum aviador sublime não seria grande vantagem para o materialista, se bem que um encontro de naturezas tão afastadas significaria, se fosse recebido em todo o seu impacto, uma autêntica catástrofe para o género humano e, logo, o fim de todo o sistema político.
A história dos discos voadores bem podia transportar-nos ao período fetichista, anterior ao estudo das leis celestes. E se nos lembrarmos que a astronomia é a base de todas as ciências, não podemos deixar de pensar em como é precário o nosso conhecimento, e no que diria Tales desses astros caprichosos. Mas o que é mais natural no meio humano do que o desconhecimento de todas as consequências dos nossos actos? Devemos contentar-nos com a estatística e as aproximações. É impossível prever o que dará a ovnimania.
A doutrina quer tratar as ideias como ideologia, e muitas vezes o que não chega a ser ideia. Mas sem uma ideia da sociedade, tosca que seja, é impossível agir e avançar no conhecimento dos homens e da política. Não admira, por isso, e pelas razões do ofício, uma dose de bom-senso tão venerável no operário que teimosamente crava os olhos no opressor e vê na nuvem do ódio o disco voador. É uma imaginação produtiva à medida do espírito técnico.

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