terça-feira, 27 de novembro de 2007

O REALISMO MORAL


Conde de Saint-Simon (1760/1825)

"Desde há mais de uma centena de anos, os críticos do sistema da livre empresa recorrem ao argumento segundo o qual a simples organização racional da produção resolveria todos os problemas económicos. Em vez de enfrentarem o problema posto pela escassez, os reformadores socialistas tiveram sempre a tendência para negar a sua existência. Desde os saint-simonianos, a sua tese é que o problema da produção foi resolvido, e que só resta o da distribuição."

"Essais" (Friedrich Hayek)


Ninguém pensaria, numa sociedade em que o rei tivesse a única grande fortuna, que a simples redistribuição resolveria os problemas de todos.

Mas quando os ecrãs são múltiplos, a organização muito mais complexa, e em vez de se suportar o fausto de um monarca, temos o de algumas centenas de famílias ou de magnatas, quando, além disso, uma grande percentagem dos recursos é desviada para o armamento ou para a burocracia governante, a ideia de que o problema está só na distribuição impõe-se irresistivelmente.

Contudo, o problema pode continuar a ser, no fundo, o do primeiro exemplo. A escassez sempre a condicionar a satisfação por igual das necessidades de todos.

Mas há aqui, evidentemente, um vício de raciocínio.

Porque a hierarquia das classes e a blindagem dos interesses farão sempre obstrução ao esclarecimento do problema social e da questão de saber se uma distribuição mais justa é possível, sem violência, e indo ao encontro dos valores essenciais.

A solução natural desta dificuldade parece estar, assim, na constante adaptação do sistema, em que a pressão dos que se sentem prejudicados constantemente obriga os interesses instalados a ceder.

Mas como essa pressão é "cega" e se move apenas pelo interesse material, transforma-se no próprio nervo do espírito de competição que caracteriza o sistema.

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