sexta-feira, 23 de novembro de 2007

AS BOAS INTENÇÕES


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"Se as importantes concentrações de capital que são as empresas pudessem ser utilizadas à discrição das direcções, para qualquer fim aprovado de um ponto de vista moral ou social, se o juízo duma direcção de um determinado fim, em função de razões intelectuais, estéticas, científicas ou artísticas devesse justificar as despesas da empresa, isso transformaria as empresas de instituições ao serviço de necessidades expressas pelos indivíduos em instituições que determinam quais os fins que os esforços dos indivíduos deveriam servir."

"Essais" (Friedrich Hayek)


E, a fim de salvaguardar o interesse público seria lógico, continua Hayek, que os "representantes designados do interesse público controlassem a direcção", ou, de outra maneira, aqueles que foram escolhidos pelos accionistas "pelas suas capacidades em domínios completamente diferentes" teriam um poder exagerado sobre a cultura, a educação ou o que é que fosse o fim de interesse público perseguido.

O único fim desejável das empresas seria, assim, o de "afectar os seus recursos ao seu uso mais rentável", sem que tenha o poder de escolher entre valores.

Há, evidentemente, nestas prevenções, um pessimismo fundamentado na experiência e na noção de que o indivíduo é sempre condicionado pela organização. Nesse sentido, é uma posição mais "materialista" do que aquela que aposta na bondade ou na maldade intrínsecas, ou em função dum critério social.

E ilustra perfeitamente o velho aforismo que diz que "de boas intenções está o Inferno cheio". Porque pode parecer uma boa ideia que as empresas persigam valores nobres ou filantrópicos, em vez de objectivos rasteiramente económicos, com a mira no lucro máximo.

No entanto, o poder negativo de algumas empresas não suficientemente controladas pelo interesse público não seria nada comparado com o que essas mesmas empresas teriam se pudessem substituir-se ao Estado e de algum modo determinar os valores da sociedade.

Cenário perigosamente próximo sempre que o Estado abdique de funções essenciais como a educação e a saúde.

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