segunda-feira, 12 de novembro de 2007

NO TROUBLE IN PARADISE


"The Blue Lagoon" (1980-Randal Kleiser)


Passadas as peripécias do naufrágio e da sobrevivência dos pequenos robinsons, a aventura reduz-se à descoberta do corpo feminino, duma forma ao mesmo tempo pedagógica e ingénua. O hardcore e a violência estão ausentes desta banda desenhada sobre a vida e a morte que não nos poupa nenhum passo da aprendizagem, segundo o lugar comum. Mas em nome de quê se pode dizer que não é um filme inteligente? O seu sucesso parece demonstrar que o problema de agradar ao público foi bem resolvido.

Sem desnecessária subtileza, nem complicação. O homem e a mulher existem um para o outro, e com o filho perdem mesmo o desejo de regressar à civilização. Mas é evidente que os autores da “Lagoa Azul” pensam que esta família bem podia existir no interior americano, refugiada numa espécie de paraíso que apenas o tantã incompreensível do habitante de outra ilha vem desfigurar. A perfeição da trindade familiar é a mentira que se quer ouvir. Mas não sem precauções, não ofendendo a mais superficial inteligência. A morte aí está, no sacrifício do estrangeiro e na comparação com o esqueleto de Paddy para moderar um idílio demasiado insosso e abrir a porta ao religioso. Que este seja um ideal sobretudo feminino não nos podemos admirar. O amor transforma o jogo infantil e a agressividade numa sinfonia povoada de tartarugas acopuladas e de bênçãos da natureza. Os outros homens não fazem mais falta do que a letra do “jingle bells”, porque a ideia do amor, do Natal e do Deus Pai podem guardar-se da corrupção como as velhas fotografias, e enxertadas no solo da amada ilha continuarão a alimentar as gerações como a bananeira.

Nesta historinha cor de rosa, há porém um outro rendimento demagógico que é a ideia da naturalidade do sexo. Os belos corpos conhecem-se para a santa consequência. No olhar do jovem há apenas curiosidade e entusiasmo. O corpo feminino é cheio de mistério para a jovem mesma. E aqui talvez se pesque uma grande ideia: o ventre como manifestação da divindade e o estatuto religioso da mulher na sociedade primitiva. Depois da vaga pornográfica, esta vingança da sexualidade ingénua até se parece com a saúde.

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