sábado, 10 de novembro de 2007

A HONRA DE DEUS



"Becket" (1964), o filme de Peter Glenville, baseado na peça de Jean Anouilh, "Becket, ou l'Honneur de Dieu", tem, talvez, a melhor representação do actor Peter O'Toole, o que é dizer muito.

É a história de uma amizade impossível de manter quando o rei, Henrique II e o arcebispo da Cantuária (Richard Burton) se defrontam na arena do poder.

Até ser nomeado pelo rei para o mais alto cargo da Igreja, no seu país, Becket, consciente da vida sem sentido que leva ao lado do seu real companheiro, diz que lhe será sempre fiel, enquanto puder improvisar a honra, dia a dia.

Mas o seu novo cargo fá-lo encontrar a verdadeira honra, e Becket, inspirado pelo que chama a honra de Deus, opõe-se ao monarca que protege um dos seus nobres acusado de assassínio.

Compreendemos por que, para Henrique, submeter-se à honra de Deus é, de facto, vergar-se ao poder da Igreja e por que para Becket continuar a ser fiel à amizade significa o mesmo em relação ao Estado.

Henrique acaba por ser o fautor do assassínio do seu rival. E, só depois de morto, Becket volta a ser amado.

O poder que separa os amigos não tem a conotação negativa do poder pessoal ou do poder abstracto.

De facto, ao invocarem um a Inglaterra e Deus o outro, deixam de se poder distinguir a paixão e a ideia política.

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