Hannah Arendt |
“As predições do futuro nunca são mais do que projecções dos presentes processos e procedimentos automáticos, quer dizer, de ocorrências que provavelmente acontecerão se os homens não actuarem e se nada de inesperado sobrevier.”
Hannah Arendt (On violence)
Desde a televisão ao telemóvel e à Internet, e desde os espectaculares ataques terroristas, a tsunamis e furacões devastadores, as últimas décadas têm sido férteis em acontecimentos inesperados, e de enormes consequências a todos os níveis.
O futuro do mundo parece não ser menos imprevisível do que o do indivíduo, cuja condição física e social está sujeita à roleta russa das doenças, acidentes e crises de todo o género.
Não tira que se continuem a fazer projecções e a sentenciar, com convicção aparente, sobre o que nos espera se continuarmos na mesma rota, de baixa produtividade, défice orçamental, etc., etc.
Ora, nem os profetas da desgraça, nem os Pangloss do governo que estiver em exercício, podem saber do que falam.
Nós é que temos de saber que TUDO é possível.
2 comentários:
Olá :)
"as últimas décadas têm sido férteis em acontecimentos inesperados, e de enormes consequências a todos os níveis."
Têm mesmo (isto é, são assim tão diferentes das outras) ou nós é que subitamente temos acesso diário a tudo o que se passa em qualquer lugar do mundo? E, subitamente também, algo para que não nos prepararam nas escolas, o mundo é um grande corpo:
"O futuro do mundo parece não ser menos previsível do que o do indivíduo"
A comparação é inevitável, não é?
E se, por um lado, concordo que temos de saber que "tudo é possível", pergunto-me se tamanho mundo não nos pesa. A mim, pesa. Vivo melhor quando me ocupo das coisas a que chego e que posso mudar. Caio num niilismo medonho sempre que, a cada hora, me lembro de tudo o que está dentro do mundo. Como um Atlas fraquito, assim me sinto.
Quanto a Hannah Arendt, há uma coisa subjacente ao pensamento que citou :) Que, uma vez reunidas certas condições, tomadas certas decisões, o rumo que irão tomar é, em grande medida, imprevisível. Se eu for político e tomar hoje a melhor das decisões, amanhã as bases que a suportam podem alterar-se. E, ainda que ligeiramente, isso pode alterar em muito o antes pretendido com a decisão. Hannah Arendt alerta para esta imprevisibilidade quando analisa as origens dos movimentos populares que apoiam e permitem o germinar dos regimes autoritários e totalitários: o que leva à insatisfação extrema que faz apoiar o tirano pode ser uma convergência das tais boas decisões políticas que a imprevisibilidade do mundo fez degenerar. Fico abismada com a actualidade do pensamento dela sempre que ligo a televisão ou passo os olhos por uma revista de "entretenimento"... mesmo sem eleições no horizonte.
Saudações :)
Na nossa situação própria, o que apetece dizer é que o futuro nunca é como pensamos.
Isto, em vez de ser um argumento a favor da inércia, é pelo contrário um estímulo à vontade.
E tal como para Descartes, perdido na floresta, caminhar afoitamente numa direcção é a unica saída.
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