terça-feira, 13 de fevereiro de 2018

A DESIGUALDADE FUNCIONAL





"Em primeiro lugar, cada pessoa deve ter um direito igual ao sistema, o mais amplo possível, de liberdades de base iguais para todos, que seja compatível com o mesmo sistema para os outros. Em segundo lugar: as desigualdades sociais e económicas devem ser organizadas de modo a que, ao mesmo tempo, (a) se possa razoavelmente esperar que sejam em benefício de cada um, e (b) que estejam ligadas a posições e a funções abertas a todos."

"A Theory of Justice" 
(John Rawls, citado por Paul Ricoeur em "Soi-même comme un autre")

Poder-se-ia dizer, de outro modo, que todas as desigualdades na repartição da riqueza e dos rendimentos seriam em benefício de todos, se fosse possível estabelecer o limite a partir do qual "as transferências sociais se tornariam contraproducentes.Rawls é acusado, à direita, por igualitarismo ("prioridade aos mais desfavorecidos") e, à esquerda, por "legitimar a desigualdade." A sua resposta ao primeiro grupo é que "a uma desigualdade arbitrária, as vantagens dos mais favorecidos seriam ameaçadas pela resistência dos pobres ou simplesmente pela falta de cooperação da sua parte." Ao segundo grupo: "uma solução mais igualitária seria rejeitada unanimemente, porque todos ficariam a perder."

É óbvio, porém, que a experiência desse limite a partir do qual o sistema ( e, aqui, não só o capitalismo ) penalizaria todos por um acréscimo de igualdade económica não tem qualquer possibilidade de ser realizada.

Mesmo admitindo que exista um tal limite, a impossibilidade da sua demonstração permanentemente alimentará o debate moral, transformando, porventura, uma questão técnica, em metafísica social.

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