sexta-feira, 2 de fevereiro de 2018

O JUDEU DESNATURADO

Abraão e Isaac ( Rembrandt)

"Na aversão de Weil à sua própria identidade étnica, na sua denúncia estridente da crueldade e do "imperialismo" do Deus de Abraão e de Moisés, na sua quase histérica repugnância perante aquilo a que chamava o excesso de judaísmo no catolicismo, ao qual, finalmente, recusou unir-se, as marcas duma clássica aversão ao Judaísmo são levadas ao clímax da perturbação mental."
"Paixão intacta" (George Steiner)

Este, o terceiro dragão de Simone: o seu alegado antijudaísmo (segundo H.L. Finch). E o pior, para Steiner, é a sua "recusa de encarar, entre o seu eloquente pathos em relação ao sofrimento e à injustiça, os horrores, o anátema que estava a ser infligido ao seu próprio povo."

É claro que a sua aversão ao "imperialismo" de Jeová e o seu silêncio em relação à perseguição e ao massacre em massa dos judeus que, de facto, é pouco provável que desconhecesse, ainda que só no final da guerra fosse revelado ao mundo toda a extensão do horror, não seriam problemas se Simone não fosse judia.

Mas nesta crítica está implícita, não é verdade, uma concepção religiosa do judaísmo. Como se qualquer distância em relação às origens étnicas fosse uma traição ontológica e devesse ser lida, conforme o método psicanalítico, como um sintoma. Esta ideia, de facto, invalida toda a possibilidade para um judeu de ser um "cidadão do mundo".

Se aplicássemos esta "chave" a Marx, por exemplo, podíamos reduzir a sua crítica do capitalismo ao espírito irreconciliável de um povo marcado pelo destino a ter que ser diferente.

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