Speakers' Corner, Hyde Park, Londres
Sempre admirei o génio prático dos Ingleses. Por exemplo, essa instituição sui generis que é o Speakers' Corner, onde toda a palavra, por mais politicamente inconveniente que seja e dentro de limites legais, fixados com razoável tolerância, pode ser proferida ou ouvida por quem quiser. Às vezes, encontra-se um carro da polícia por perto, mas tanto para proteger o orador como impedi-lo supostamente de "descarrilar".
O problema é que esta liberdade é exercida no único ponto do país onde não faz sentido dizer a verdade. Nunca passará pela cabeça de qualquer opositor político que se preze recorrer a esse púlpito para dizer o que pensa.
Esse lugar está marcado, seja o que for que ali se diga, pela insignificância, embora, ocasionalmente, como aconteceu em 2003 aquando dum protesto contra a guerra no Iraque, possa ser ocupado por verdadeiros manifestantes numa tentativa de desviar o símbolo do folclore para a actualidade.
A liberdade não está aprisionada numa jaula, como o tigre, para descanso do turista, mas não é uma liberdade a sério. O que é que lhe falta?
Falta-lhe o sentido e o risco de uma verdadeira acção. Ali, a liberdade é como que o fim de si mesma, como a sua pura forma num museu ao ar livre.
O parentesco desta instituição com o Carnaval é flagrante. Até as piores ditaduras consentem no Carnaval. Carne levare.
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