quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

ECONOMIA E VACAS SAGRADAS

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No país em que se admira o mercado quase como uma religião, o que acontece quando ele falha tão estrondosamente como acontece com o sistema de saúde?

Nada.

O sistema criou anticorpos suficientes para que já não pareça possível resolver o problema por métodos democráticos.

"Pior, 15% dos cidadãos não têm cobertura de seguro de qualquer espécie - o que deveria ser uma estatística surpreendente para a mais rica economia do mundo, mas provavelmente não é, porque isso é objecto de lamentações há tantos anos. Compare-se isto com a Alemanha, onde 0,2% da população não tem cobertura, ou com o Canadá e a Grã-Bretanha, onde toda a gente tem essa garantia do governo."
Mas por que não funcionam os seguros?

"Algumas pessoas que têm despesas mais prementes do que o seguro de saúde (por exemplo, os jovens pobres, que têm pouco dinheiro e justamente antecipam que não vão ficar gravemente doentes) saem do sistema. Como resultado, as companhias de seguros, precisando de cobrir os seus custos, aumentam os prémios para o cliente médio, afastando cada vez mais pessoas."

Contrariamente ao modelo dos "limões" absolutos (selecção adversa, na gíria dos economistas), o mercado não entra completamente em colapso. Porquê?

"Em parte, porque muitas pessoas acham que os riscos de terem de pagar por tratamento médico são tão preocupantes que estão dispostas a pagar substancialmente mais do que um prémio actuarialmente justo."

E, também, porque os grupos mais jovens são constrangidos a aceitar um pacote de seguros com o seu emprego.

Os custos duma gigantesca burocracia (as companhias têm de "monitorizar os riscos, o comportamento e as despesas dos seus clientes") pesam na ineficiência do sistema, sobretudo quando se pensa que, com muito menos custos, outros países garantem um serviço universal.

"Os cuidados de Saúde nos EUA custam um terço mais, por pessoa, do que ao seu rival mais próximo, a super-rica Suíça, e duas vezes mais do que muitos países europeus gastam."

Portanto, neste caso, o mercado não funciona, e o que funciona só é possível graças à falta de alternativas e a uma espécie de imposto privado sobre os mais jovens, atrelando o seguro ao emprego. Tudo isto ao mesmo tempo que se deixam milhões de pessoas sem qualquer cobertura.

Talvez o governo pudesse fazer melhor. Mas, como diz o autor: "infelizmente, enquanto os mercados podem falhar, os governos podem também falhar. Políticos e burocratas têm as sua próprias motivações."

(citações do livro de Tim Harford, "The undercover economist")

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