quinta-feira, 15 de fevereiro de 2018

O PARADOXO DO SAMURAI




"Esta falta de preocupação pelo estranho ao grupo é dramaticamente ilustrada pela tradição conhecida como "experimentar a espada nova", ou tsujigiri. A palavra japonesa significa, literalmente, "corte de cruzamento". Para que uma espada fosse aceitável para um samurai, tinha de ser capaz de trespassar um adversário, do ombro ao flanco oposto, de um só golpe. Participar numa batalha com uma espada incapaz de fazer isto poderia significar a desonra."

"Como havemos de viver?" (Peter Singer)

Assim, para experimentar a sua espada nova, esperava num cruzamento, "até que um camponês incauto, ou qualquer viajante não-samurai, calhasse passar por ali. Então com um só golpe, tentaria dividir o infeliz em dois."

Isto para relevar o terrível paradoxo do espírito tradicional japonês que aliava uma fortíssima e algo exótica solidariedade de grupo a uma indiferença em relação aos estranhos, que podia chegar a extremos como o daquela tradição samurai.

O Japão tradicional fornece, assim, um exemplo de falta de integração do indivíduo na sociedade como um todo. Ora, a sociedade democrática, através dos seus sub-sistemas, parece tender para algo de semelhante, conforme as teses de Niklas Luhmann.

E embora o indivíduo tenha aqui maior visibilidade, o que se pergunta é até que ponto isso corresponde a um conceito de acção (e, logo, de participação)?

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