domingo, 25 de outubro de 2015

DECISÕES RACIONAIS




"Faz-se ou não se faz, um filho; não é da ordem da decisão racional, isso não faz parte das decisões que um ser humano pode racionalmente tomar."

(Michel Houellebecq)

Mais uma provocação do romancista, que vai contra a cultura da liberdade e da responsabilidade? Contudo, a declaração decorre de uma ideia proclamada por todas as religiões: tudo é dom, e nós não nos pertencemos a nós mesmos. Qualquer crente subscreverá esse princípio que a morte não se cansa de lembrar. Mas parece que as consequências disto só valem no campo religioso ou no da ética. Poderíamos viver sem qualquer referência a elas no 'mundo real', o da prática.

Houellebecq afirma, noutro passo, que o conceito de 'causa' não é científico. De facto, não é, porque está tudo encadeado e nunca por nunca conseguiríamos isolar uma 'causa', desligada de tudo o que existe. Mas sabemos que a Ciência se desenvolveu, num mundo que só pertence à razão, com aparente sucesso, utilizando o conceito de causalidade e a especialização do conhecimento. Este mundo quase expulsou o outro, nos nossos dias, nos países mais 'avançados', onde, por exemplo, já se pode sonhar com a escolha racional da descendência que preferimos e até com uma vitória sobre a morte. A Ciência permite-nos esperar tudo isto.

Mas como juntaremos os ramos e rebentos de ramos científicos que crescem por cima da nossa cabeça num tronco comum, numa 'árvore'? A salvação está na crença dos tempos modernos de que tudo no final resultará em bem, como se realmente existisse uma Providência própria da Ciência, semelhante à Ideia que Hegel aplicou à História.

A vantagem da revolução científica é que, aparentemente, dispensa uma parteira...

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