segunda-feira, 26 de outubro de 2015

AQUILES, A LOIRA


"As armas de Aquiles"

"Aquiles era chamado pelas suas amigas Pirra, a Loira, a loira-russa."
(Roberto Calasso)

Tétis, que queria proteger o filho do destino anunciado, escondeu Aquiles entre as mulheres do gineceu de Licomedes. Que estado é esse na vida do maior herói da Grécia Antiga? Será diferente do de Cláudio, escondido da guarda pretoriana atrás de um reposteiro, depois do assassínio de Calígula?

A protecção maternal funciona, sem que o futuro herói pareça resistir à nereida, sua mãe, até que o astucioso Ulisses o desmascara por não poder esconder a sua paixão pelas armas. Depois disso, acaba-se o interlúdio feminil e Aquiles assume-se como varão e chefe dos homens, à frente de uma esquadra em direcção a Tróia. No gineceu, deixa um filho, Neptolomeu, única manifestação da sua virilidade no exílio.

A 'Ilíada' começa com um amuo do herói, por causa de uma escrava cobiçada pelo chefe dos exércitos, Agamémnon. Só sai dessa disposição para vingar a morte do amigo do coração, Pátrocolo, às mãos de Heitor, o príncipe troiano. Por fim, uma seta envenenada de Asteropeu, o filho de Pélago, que o atinge no seu único ponto vulnerável, o famoso calcanhar, põe fim a uma carreira meteórica.

Concluíndo, a figura de Aquiles é, não só sexualmente ambígua e militarmente pouco exemplar, sem deixar de ser acutilante como símbolo da guerra. Como dizia Simone Weil, a 'Ilíada' é o 'poema da força'. Da força, porque em nenhuma situação, o homem é, talvez, tão pouco senhor do seu destino como na guerra.

Mesmo o menos imperfeito dos heróis testemunha da nossa miséria.

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