quarta-feira, 28 de outubro de 2015

ABSOLUTISTAS

https://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/a/ad/Fête_de_la_Raison_1793.jpg


"Princípio da Razão Insuficiente: na nossa vida real, quero dizer na nossa vida pessoal, como na nossa vida histórica e pública, apenas se produz aquilo que não tem razão válida."
"O Homem Sem Qualidades" (Robert Musil)

O romancista fala ainda da existência de uma 'língua misteriosa' que exige 'uma compreensão particular, imediata, ou melhor ainda uma familiaridade' que permite a certas pessoas 'saltar por cima da compreensão.'

Não podemos compreender um acto da mesma forma que compreendemos um teorema. De facto, não somos capazes de 'incluir' toda a extensão da sua complexidade. Mesmo o que parece ter uma causa conhecida só resulta em compreensão por praticarmos uma vivissecção convencional. Só porque espontaneamente criámos as condições de uma experiência desligada do seu contexto.

Depois do prelúdio da psicanálise que fez entrar o inconsciente, as pulsões involuntárias e a própria mitologia grega no que até ali tinha sido um mistério inexplicável, a justiça oficial passou a ser também sensível às 'condições sociais' como princípio explicatório e atenuante. Ora, esta evolução, este progresso, faz parte do aparato profano e do recuo geral da autoridade, que caracteriza a nossa sociedade.

O 'Princípio da Razão Insuficiente' seria a consequência lógica deste processo. Conhecemos os monstros engendrados pelo 'sono da razão', mas também aqueles, assassinos de outra escala, e por isso mais monstruosos ainda, do absolutismo da razão.

A ameaça vem de serem poucos os praticantes. A paz e o próprio mundo estão ainda à mercê dos absolutistas.


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