sexta-feira, 24 de abril de 2015

O ENGENHEIRO




"Como já referi, e como mostrarei no que se segue, a história do rendimento e da riqueza é sempre profundamente política, caótica e imprevisível."

"O Capital no Século XXI" (Thomas Piketty)

A economia sem rendimento nem riqueza é pura ficção. Contudo, não faltam especialistas nesse domínio ficcional. Como o charlatão que não pode conter o riso ao cruzar-se com outro no passeio, não deviam faltar sorrisos cúmplices entre os economistas.

Mas não. Todos levam a sério as suas previsões sobre o 'caos' de Piketty.O autor desta obra que tanto sucesso obteve junto da elite política insiste em juntar a política à economia. Marx nunca se enganou sobre isso, mas, no seu caso, o factor político é rapidamente esquecido para dar lugar à razão histórica, como se sabe. O seu sistema que, abstractamente, procura ir ao encontro de pretensas leis, congela o caos político e introdu-lo, sob outra forma, na própria organização da economia e do Estado.

Piketty não quer ir tão longe e limita-se a confrontar as várias ideologias capitalistas com o resultado prático, essas 'justificações' da desigualdade (no fundo a continuação dos privilégios nominalmente terminados com a Revolução) com o estrondoso falhanço. 

A sua receita é fiscal e nada mais do que isso. Se os ricos ficam mais ricos, numa proporção maior do que o aumento da riqueza nacional, a correcção tem de vir através de maiores impostos sobre o capital. O facto desse Olimpo financeiro ser cada vez mais concentrado, distanciando-o das próprias elites, promete um grande futuro à proposta de Piketty.

O Prometeu que assaltará os céus do Capital não é necessariamente democrático. O problema é o da segurança dos próprios 'olímpicos'. Pede-se um engenheiro, mais do que um reformador.

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