domingo, 26 de abril de 2015

CAMUFLAGEM

Lord Acton


"Quando os oficiais franceses estavam de partida, Cooper, de Boston, dirigiu-se-lhes num tom de aviso: "Não deixeis que a vossa esperança seja inflamada pelos nossos triunfos neste terreno virgem. Levareis os nossos sentimentos convosco, mas se tentardes plantá-los num país que está corrompido há séculos, encontrareis obstáculos mais formidáveis do que os nossos. A nossa liberdade foi ganha com sangue; vós tereis que derramá-lo em torrentes antes que a liberdade possa enraizar-se no velho mundo." Adams, depois de ter sido presidente dos Estados Unidos, lamentou amargamente a Revolução que os tornou independentes, pelo exemplo que deu aos Franceses; embora também acreditasse que eles não tinham um único princípio em comum."

(Lord Acton)

Hoje os EUA têm mais do que um princípio em comum com a Europa. Fomos 'aculturados' pelo seu modo de vida e pelo seu cinema e 'entertainment'. Também o país mudou muito e continua a fazê-lo de um modo alucinante, sobretudo graças à tecnologia em que dão cartas, em comparação com o resto do mundo. Será este fenómeno um produto da liberdade dos primeiros tempos? Os Americanos continuam, aparentemente, a pensar que "o indivíduo privado não deve sentir a pressão da autoridade pública, e deve dirigir a sua vida pelas influências que estão dentro de si, não à sua volta." (idem)

Mas a extrema desigualdade (não a desigualdade 'necessária', funcional, de um Piketty) indicia um grande falhanço das primeiras esperanças. Esse falhanço é partilhado com a Europa americanizada.

O dinamismo, de origem tecnológica, da nação americana talvez esteja ligado ao conceito tradicional de liberdade. As ditaduras podem imitar, tornarem-se super-potências financeiras, mas o espírito inventivo foge de tais paragens.

Ora, o desenvolvimento tecnológico, correspondendo embora a um 'progresso' ambíguo, não deixa de alimentar a esperança utópica. Temos a certeza que a cura para o câncro está para relativamente breve e nada nos impede de esperar a justiça, nomeadamente, que as desigualdades mais gritantes não tenham também uma solução 'técnica'. É uma inesperada revisitação do optimismo do 'materialismo histórico'. A lei desse 'processo' ainda não foi formulada, mas a 'intuição' existe.

Nestas condições, não se trata de um princípio. Apenas se reconhece que uma das condições para este futuro radioso é a liberdade do indíviduo, na versão americana. Ofuscações como essa explicam muitos dos erros estratégicos dos USA pelo mundo fora.

Mas é preciso concordar com Hannah Arendt, quando diz que a Revolução americana (levando aqui à hipérbole uma guerra de independência, que é uma revolta, mais do que uma revolução) foi a única bem sucedida da história moderna.

O lamento de Adams foi mais do que justificado em face do Terror. O regime corrupto do velho mundo não foi vencido por essa tentativa de 'tabula rasa', nem mesmo pelo império.

Por isso a 'Ocultação' prossegue com a celebração da famosa tríade, e é a chave da nova-velha França.  O Capitalismo é só um dos nomes dessa camuflagem.

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