quinta-feira, 21 de novembro de 2013

PARUSIA

"(Schmeisser) vivia 'para' o socialismo. Quando tinha fome ou quando se sentia humilhado, quando bochechava ou quando procurava um botão arrancado, isso era uma etapa na sua marcha para um fim."

"O Homem Sem Qualidades" (Robert Musil)

Deveria ser assim que os primeiros cristãos viviam na expectativa da parusia, o próximo regresso de Cristo. Não importavam os azares da vida, o mau carácter dos semelhantes, tudo era provisório. Ganhava-se até, com o sofrer, a alegria do contraste e do merecimento.

Não foi preciso muito tempo para o aperfeiçoamento da doutrina trazer um pouco de bom senso e fazer da paciência uma das maiores virtudes. O exemplo dos santos havia de converter a morte numa espécie de parusia. A vinda de Cristo, sempre imprevisível, tornava-se uma viagem garantida ao seu encontro.

Schmeisser era demasiado jovem para ser paciente e trocar a Revolução para amanhã pelo dia a dia acomodado duma vida burguesa.

O futuro passara a ser uma ideologia que lhe devorava o tempo de viver.

 

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