terça-feira, 12 de novembro de 2013

A PERFEIÇÃO

A Giant Traditional Chinese Painting



"Queres saber como pintar uma pintura perfeita? É fácil. Torna-te a ti mesmo perfeito, e pinta, então, naturalmente."
(Robert Pirsig)

Como diz Simon Leys, a propósito da pintura chinesa, não há nada de mais afastado da nossa cultura de que uma ideia como essa. A depravação moral pode plenamente conjugar-se com o génio artístico, tal como o consideramos. A não ser que o génio nada tenha a ver com a perfeição, na obra e na pessoa...

Temos em Giotto ou Fra Angelico dois exemplos do que poderia ser uma arte inspirada, senão numa vida perfeita, pelo menos no desejo dela. Em Picasso, génio multiforme, parece que o homem e o criador de formas se afastaram. A sua vida, como a de Caravaggio, parecem alheias à ideia de uma arte inspirada, como se bastasse o trabalho da pintura e o saber profissional. Tal concepção da arte, por outro lado, não destoaria em Bach, artista assumidamente consciente do seu 'profissionalismo'. Esta visão tão 'terrena' da criação musical não é decerto compartilhada com a imensidão dos seus admiradores, para quem o músico é o exemplo do artista inspirado pela sua religião.

Nesse sentido, a 'humildade' deste imenso artista traz à sua vida uma aura de perfeição. Fazer música perfeita, conforme a ideia de Pirsig, decorria 'naturalmente' da sua própria perfeição.

 

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