domingo, 3 de novembro de 2013

A EDUCAÇÃO DO AMOR



"Tal é, infelizmente, a desgraça duma excessiva civilização! Aos vinte anos, a alma dum jovem, se teve alguma educação, está a mil léguas do deixar-se ir, sem o qual o amor não é muitas vezes senão o mais aborrecido dos deveres."

"(...) Uma jovem coquete que ama cedo acostuma-se à perturbação do amor; quando chega à idade da verdadeira paixão, o encanto da novidade falta. Como a senhora de Rênal nunca tinha lido romances, todas as nuances da sua felicidade eram novas para ela."

"Le Rouge et le Noir" (Stendhal)


Ah, a inocência desses tempos, antes da sida e da revolução dos costumes!

Hoje, a civilização tem uma influência ainda maior e o "deixar-se ir" soa a irresponsabilidade.

Lêem-se ainda menos romances do que madame Rênal, mas o cinema e as telenovelas ocupam, em vez deles, o imaginário de todos. O amor não se compreenderia sem esta nova maneira de contar histórias e de criar modelos.

Interrompo. Alguém disse aqui ao lado: - Ó Manel, é assim:

E esses dois pontos, sacramentais em qualquer conversa de hoje, deixam-me arrasado. Aquelas duas palavras significam pôr em parangonas o que vamos dizer a seguir. Os dois pontos criam um vácuo antes da mensagem e estendem uma passadeira vermelha para a importância.

Importante é o senhor de Rênal, e ele era tudo quanto a pobre senhora sabia do amor, até conhecer o jovem preceptor dos seus filhos, com a cabeça cheia de literatura e apostado em não falhar a sua conquista.

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