quinta-feira, 28 de novembro de 2013

O ENRAIZAMENTO

Simone Weil

 

"Li um livro importante. É 'L'Enracinement' de Simone Weil. Importante para todos e muito importante para mim. Eu conheço essa jovem, eduquei-a, deplorei a sua morte, mas deploro-a menos pensando que deixa este grande livro. É o único, tanto quanto é do meu conhecimento, que trata do socialismo. Conto com um franco movimento de opinião que consolidará o socialismo e arruinará o comunismo [...] É uma análise completa da sociedade moderna democrática e socialista [...] Estou feliz. Compreendo o silêncio desta jovem terrível, que permanecia para mim enigmático. Ela estava de tal modo acima dos seus camaradas que toda a comparação era impossível. Eu tinha-a apelidado de Marciana [...] Mme de Stael está ultrapassada, e segundo nós isso não é dizer pouco [...] Simone Weil é um exemplo eminente do espírito bíblico, elaborado em espírito moral e em espírito político. Honra portanto a Spinoza [...]"

Alain (in "Alain, Un sage dans la Cité" de André Sernin)

Simone Weil morreu em 1943 num hospital do Sussex. O 'espírito bíblico' de que fala o seu mestre não é o mesmo que inspirou Marx no seu grande empreendimento pela salvação na terra? O judaísmo foi sacudido por ambos, porque ambos nasceram filhos de Sem, mas, à distância, é o 'espírito bíblico' da Promessa que prevalece.

Marx, todavia, teve um segundo nascimento na teia hegeliana. 'Malhas que o império tece". O seu arremedo de sistema provou ser uma armadilha. E as suas profecias não podem ser levadas a sério. Fica a crítica do capitalismo do século XIX, que parece hoje mais do que justificada.

Alain diz que o livro de Simone foi a única obra 'socialista' de que teve conhecimento. E isso é quase incrível, porque nunca se deixou de escrever sobre o socialismo e não só da parte dos ideólogos oficiais.

Isso é porque a fonte de inspiração é outra, de outra filosofia e de outra tradição. Parece a ideia original do socialismo. Alain pode ter razão, mas 'L'Enracinement' impressionou mais os últimos abecerragens da cultura clássica e cristã do que os movimentos sociais da actualidade.

Sobretudo, não é nos partidos 'socialistas' que se podem encontrar quaisquer vestígios. A moderna esquerda pedala no mesmo tandem, quando chega a sua vez.

Spinoza continua a ser desonrado.


 

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