domingo, 20 de outubro de 2013

OS HIERÓGLIFOS DO PASSADO

Marcel Proust


"Cada dia que passa dou menos valor à inteligência. Cada dia me dou mais conta de que é fora dela que o escritor pode retomar alguma coisa das nossas impressões passadas, quer dizer atingir algo dele mesmo e a única matéria da arte. O que a inteligência nos dá sob o nome do passado não tem nada a ver com ele."

"Contre Sainte-Beuve" (Project de préface) de Marcel Proust

E como poderia a vida passada ser objecto de dedução? Não, não, a memória do que vivemos só pode ser "libertada" por um novo olhar sobre esses objectos que, eventualmente, tiveram uma parte insignificante na emoção passada e que, precisamente por isso, foram esquecidos pelos interesses do presente (incluído o de oblívio), mas que conservam intacto um eco do passado.

Este método, utilizado por Proust na "Recherche" está muito mais próximo da psicanálise do que da arqueologia.

E também aqui o sentido que se dá à interpretação prevalece sobre a verdade.

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