terça-feira, 1 de outubro de 2013

DISCENTES

"Zéro de conduite" (Jean Vigo)

No outro dia, numa mesa ao lado do café, três jovens respondiam às questões de um teste 'americano' sobre história, o que me levou a uma série de conjecturas pessimistas. A 'matéria', assim apresentada, parece-se demasiado com um concurso da televisão, para não inquietar o menos céptico dos cépticos. Pode dizer-se que este método, com um leque de respostas à questão introduzida, das quais uma só é 'verdadeira', releva mais do espectáculo (a passagem de ano é o prémio) do que do ensino...

A história, no caso, deixa de ser uma narrativa do historiador para ser uma pretensa súmula dos acontecimentos, traduzida num índice de questões mais ou menos arbitrário, e ao sabor das modas da pedagogia institucional.

Depois desta discorrência que acusará, talvez, a desilusão da idade, pus-me outra questão que é o problema da eficácia. É possível que os estudantes de hoje que saem da escola, julguem, talvez, saber alguma coisa. De facto, este método não pode visar a transmissão dum saber. De resto, passado algum tempo, nada ficou da rapsódia de 'respostas certas' (ou que se acertaram no 'tiro ao alvo'). Nada, ou quase nada. É o que o ex-aluno vier a cultivar por si próprio que realmente conta.

Quanto àqueles 'dum outro tempo' que aprenderam o inglês, por exemplo, e não o praticaram de um modo ou de outro, também esqueceram.

Este resultado final, comum ao método 'antigo' e ao método 'novo', faz-me pensar no verdadeiro objectivo da escola, o que nos leva para um outro âmbito da funçâo de educar. A velha escola moldou os comportamentos, disciplinou o corpo rebelde dos meninos e dos adolescentes, pelo meio mais simples que existe: pelo sentar, pelo auto-controle dos movimentos. Claro que esta era a preparação mais útil para os futuros amanuenses e empregados do terciário. Foi, certamente, eficaz.

Agora, a tecnologia desfez esse modelo. A televisão ainda ensinava a passividade, mas o computador e o 'smartphone' reclamam cada vez mais atenção sobre o pequeno écrã. A escola não está de modo nenhum preparada para impor a sua disciplina a este tipo de negligência e de comportamento informal. A palavra do professor não tem a mesma competência que teve nos 'bons tempos', quando confrontada com a enciclopédia universal do Google. Os telemóveis distraem continuamente, atraindo irresistivelmente os 'discentes' para o 'continuum' da ligação à rede. Parece existir até um certo maquiavelismo por parte da força tecnológica para tramar a escola. Anuncia-se já a invasão dos 'smartwatches' que não deixarão de captar o que sobra da atenção dos alunos e da disciplina na aula. Portanto, se tiverem sucesso nos exames, chegam à vida activa com a matéria liofilizada pronta para o 'delete', que receberam da escola. Quanto ao emprego, quando há, estarão prontos para o trabalho 'independente', sem chefes e sem regras coactivas.

Talvez esse seja o futuro, quem sabe?

 

 

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