quinta-feira, 24 de outubro de 2013

NÃO HÁ SISTEMA

(José Ames)

"- Se as próprias enfermeiras estão paradas por falta de sistema!"

Assim se lamentava uma das empregadas da secretaria do meu posto de saúde diante dos utentes (neste caso, candidatos a utentes, porque não havia nenhum serviço que pudessem utilizar), velhos na maioria, resignados com os caprichos do 'sistema'.

Ninguém fala desta outra frente de ataque à 'saúde pública' que actua por embolização dos meios informáticos. Fez-se a organização depender dos computadores e agora deixa-se tudo entupir por falta de assistência ou de renovação do equipamento. Comparadas com isto, as clínicas privadas pertencem ao primeiro mundo, onde tudo é limpo, polido e conectado. As falhas do sistema são raras e depressa remediadas. A saúde privada sabe que só pode baixar os seus padrões de qualidade (e subir os seus lucros) quando o Estado tornar irreconhecível, para pior, evidentemente, o que já foi a saúde pública.

Há a luta contra o 'sistema' que é a de todo o esquerdista que se preza. O facto da Direita ter também na mira os seus sistemas não nos deve admirar. O que a Direita não tem é "o" Sistema, porque ele está só na cabeça das pessoas, ou, para os crentes, algures no futuro. Por isso ela está mais do lado de Pança do que do de Dom Quixote.

Simon Leys diz que o Cavaleiro acabou por converter o Escudeiro, o que redundaria na superioridade moral daquele.

Fora dos anti-romances de cavalaria, porém, a luta entre as duas culturas políticas é de sempre e, por princípio, não pode haver conversões.

 

 

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