quarta-feira, 25 de setembro de 2013

SULCOS

Heidegger em Taudtnauberg

" O pensamento tem de descer humildemente à pobreza da sua condição provisória. Não pode, no melhor dos casos, fazer muito mais do que seguir a pista dos seus sulcos quase intangíveis na linguagem."

Martin Heidegger

É o filósofo que diz que a língua, entretanto, foi adulterada numa espécie de serviço público, como qualquer meio de transporte. A interpretação arqueológica a que dedicou o seu imenso labor, a subtil pesquisa dos 'sulcos', na linguagem do mundo pré-socrático, antes das ideias e das categorias dos clássicos da Grécia antiga, antes da própria lógica, parece uma questão de fé, ou melhor, de teologia.

O mundo heideggeriano é um 'verdadeiro' mundo, como o foi o mundo medieval, embora este tivesse sido um mundo vivido por gerações durante séculos e séculos. O tempo dotou-os de uma nova e comum dimensão. Desaparecido o homem medieval, morto o pensador de Todtnauberg, ambos os mundos são objecto de interpretação infinita.

Poderemos comparar um facto histórico com o sonho de um filósofo? Podemos, na medida em que ambos são histórias.

No fundo, ressuscitar o tempo de Parménides, de que há pouquíssimos vestígios, fora os que se encontram nos 'sulcos' da filosofia clássica, vem a ser uma tarefa tão impossível como a de 'dar vida' à Idade Média, apesar dos incontáveis testemunhos históricos, ou 'quebrar' os enigmas duma mente possuída pela sua ideia.

 

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