segunda-feira, 30 de setembro de 2013

CORRUPÇÃO DA INTELIGÊNCIA

Lord Acton

Foi Lord Acton que disse que o poder absoluto corrompe absolutamente. Assim dito, não seria pela qualidade dos que o exercem que o poder corrompe. Ou então teríamos que distinguir entre corrupção e necessidade.

Até os adversários reconhecem que Salazar fez o que tinha a fazer nos primeiros tempos da prolongada crise que o levou ao poder. Mas terá pensado, depois da ordem restabelecida, que nada valia o risco de comprometê-la com inovações 'perigosas', e que, enfim, a ditadura se podia perpetuar indefinidamente graças à sua sabedoria. Poderíamos dizer que o ditador não se deixou corromper pelo dinheiro, mas pela sua ideia de magistério perpétuo sobre o povo português. Questão de poder, sem dúvida, mas sobretudo corrupção do juízo e da inteligência.

As grandes crises sociais não têm uma solução conhecida. Se a economia política, em tempo de paz relativa, é o viveiro de charlatães que enxameia a comunicação social e algumas universidades na moda, pode imaginar-se, os efeitos da mesma ignorância no descontrolo e no tempo acelerado de uma crise de regime, de modelo, ou simplesmente de ideias.

Utiliza-se muitas vezes a metáfora da bicicleta aplicada à Revolução (a mítica, evidentemente). Se a bicicleta pára, cai infalivelmente. Tem esta comparação o mérito de chamar a atenção para o papel da velocidade na reestruturação social. Os 'revolucionários' cedo vêem o seu plano ultrapassado pelos factos (na verdade, não se pode prever o futuro, pelo que o melhor meio para se obter a maior coincidência possível entre o plano e a realidade seja o de aumentar a velocidade.) Lenine estendido no soalho do Smolny para descansar entre os decretos, sabia que o sonho tem de correr mais depressa do que a desilusão.

Nesse momento, no pico da aceleração, a realidade não se mostra e tudo está, no melhor dos casos, conforme o desenho. Mas depois vêm as consequências que são atendidas, não segundo a humanidade dos líderes, nem a sua sensibilidade musical (Lenine coibia-se de se enternecer com as sonatas de Beethoven), mas segundo a urgência e a lógica da máquina administrativa e da organização básica.

A partir daí, os 'revolucionários' fazem como Salazar, deixam-se corromper. Além do mais, seguem uma lei natural: depois do esforço extremo, é preciso descansar.

 

 

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