quinta-feira, 26 de setembro de 2013

A NEGAÇÃO DOS FACTOS

George Orwell

"(...) se se alberga na mente uma lealdade ou um ódio nacionalista, certos factos, ainda que em certo sentido se saiba que são verdade, são inadmissíveis.

("Notas sobre o Nacionalismo", George Orwell, citado por Tony Judt)

É o mesmo sentido em que um homem que sabe que vai morrer de cancro não quer ouvir falar disso, aferrando-se a uma versão das coisas delirante que, apesar de absurda, lhe permite alguma hipótese de esperança. A esperança pode sempre revelar-se infundada, mas é melhor do que a sentença de morte. Há casos, evidentemente, em que o canceroso se recusa a ver no cancro uma tal sentença. É outra atitude.

As convicções políticas podem ser tão entranhadas que, se atacadas, não são consideradas como uma simples diferença de opinião. Representam, pelo contrário, uma ameaça às razões da existência que animam um indivíduo ou um grupo.

É comum chamar a isso fanatismo, fenómeno que se vê não só na religião, mas também na política e até no futebol.

O negacionista sabe em 'certo sentido' que, muitas vezes se defronta com factos e não simplesmente com opiniões. Mas persevera no seu 'erro' vital. Admitir certos factos é desfazer a sua própria vida.

Assim se comportava e, em Portugal ainda comporta, muito pessoal de esquerda, que prefere epitetar Soljenitsyne de traidor e mentiroso quando narra a sua experiência no Gulag...

 

1 comentários:

Ricardo António Alves disse...

Aproveito o post para comentar pela primeira vez no seu magnífico blogue: «O Arquipélago de Gulag». que li já no fim da adolescência, foi-me fundamental, tornando-me imune à tentação totalitária. Inversamente, creio que também contribuiu para me dar abertura às opiniões alheias, desde que não envenenadas pelo extremismo sectário, que vê no outro um inimigo a abater ou um infiel a converter.