Lawrence da Arábia (1962-David Lean)
Neste conflito entre o mundo árabe e o Ocidente, vem a propósito evocar a figura dum mediador de proporções míticas, cujo sucesso não foi ainda ultrapassado: T. E. Lawrence.
É claro que ele também foi um instrumento do colonialismo, mas jogando contra ele na medida em que se envolvia na causa desses povos.
A sua demonstração de que "nada está escrito", no episódio em que volta às "Bigornas do sol" para trazer o homem que caíra do camelo (no filme de David Lean), é o contrário da retórica e de qualquer superioridade teológica.
O heroísmo e o seu amor ao deserto são os ingredientes da sua influência.
Isso ilumina talvez as raízes do ódio e da intolerância: a distância entre o nosso modo de vida e o da maioria dos muçulmanos, que lhes está presente a todo o instante através da globalidade dos media, é um insulto permanente.
Nem aquilo que temos por mais nobre e (virtualmente) mais universal escapa ao dedo acusador do privilégio.
Quem já andou de metro em Londres, conhece aquele aviso que se ouve sempre que abrem as portas das carruagens, nalgumas estações: "mind the gap!" (cuidado com o fosso entre o comboio e a plataforma).
É dum fosso que temos de ter consciência antes de qualquer interpretação dos gestos.
1 comentários:
Mais um livro de apontamentos, descoberto hoje por esta incipiente aprendiz de feiticeira da net ...Obg
"Os Sete Pilares da Sabedoria" é um livro precioso e, há anos, fez-me olhar o Médio Oriente duma outra forma, como um apaixonado e irreverente inglês abraçou a causa árabe para grande escândalo do colonialismo da época. E o filme é belíssimo tb. O Ocidente, na sua prepotência atávica, nunca poderá
"mind the gap" com as outras civilizações visto que se considera superior e não admite as diferenças. Insistir para negociar
ideias, insistir sempre para coexistir com outras formas de vida
EP
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