“Mas a natureza especifica da retórica (da propaganda, da lisonja, da diplomacia, etc) consiste em corromper essa liberdade (solicitar o sim do Outro)"
Emmanuel Levinas
É possível que algum facto jornalístico ponha de lado a retórica, mesmo quando parece apresentar a realidade nua, como num documentário?
Em primeiro lugar, tenhamos presente que há uma retórica do excesso e uma retórica da pobreza. Entre o barroco (que terá passado hoje para o lado da citação e da conotação inter-media) e a falsa modéstia, a que levava a que se apontasse a um cínico que a vaidade transparecia através dos buracos do seu manto, há todo um largo espectro de formas a que também se pode chamar técnica de comunicação ou marketing.
Quando Esther Mucznik (no “Público” de hoje) diz que a cedência unilateral, em Gaza, ordenada por Ariel Sharon é o reconhecimento por parte deste de que nenhum compromisso é possível com o interlocutor palestiniano (porque seria fatalmente acusado de traição) e um acto tão inteligente quanto inesperado da parte do chefe dos falcões israelitas, que forçará uma saída do impasse com maior repercussão do que quaisquer negociações, sabemos que nenhum radical do outro lado verá aí mais do que propaganda, que pretende negar a evidência dum retumbante triunfo da sua própria luta. Aqui a acção militar fala por si e a retórica está apenas nos que comentam ou interpretam, impedindo-os, porventura, de se aperceberem do que há de novo na situação.
A linguagem está sempre entre nós e o sim do Outro. E o acordo poderá servir-se de andaimes pouco estéticos.
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