Um dos efeitos da desvalorização da política e da acção é a predominância do espectáculo nas nossas vidas. Em vez de corrermos e exercitarmos o nosso corpo, preferimos ver alguns atletas a suar por nós. Entre a participação num debate ou numa assembleia, que nos obriga a sair de casa e a tomar posição e assistirmos a um confronto televisivo ou à transmissão duma sessão parlamentar, achamos não só mais cómodo como mais esclarecedor o espectáculo.
Neste contexto, é que surgem dois fenómenos que embora sem terem a mesma presença mediática são espécies do que poderíamos chamar de protagonismo idiota: um é a piromania ateada pelas imagens da televisão que só parará, pelos vistos, quando as únicas árvores que poderemos ver serão as do jardim botânico, e o outro é a pichagem delirante que borrou a cidade com garatujas sem poupar o menor espaço em branco.
Ambos são um 'ersatz' da acção (mas sem qualquer valor ou significado, antes revelando o impasse na mente dos seus autores) e utilizam avidamente o espaço dos media televisão e cidade, sem o que não poderiam existir.
A televisão alimenta o vandalismo pirómano dando-lhe o maior palco do mundo, em que todo o tipo de actores e de poderes histriónicos se apresentam; a cidade, pela inércia e o conformismo é um placard panorâmico que nos cerca de todos os lados e através do qual todos nos tornamos um pouco mais vândalos.
0 comentários:
Enviar um comentário