Luís de Gongora (Velasquez)
Li no “Expresso” desta semana uma veemente diatribe de Rodrigo de Sá-Nogueira Saraiva contra os intelectuais (de esquerda, já que não haveria outros; concordo, se nos ativermos a uma tradição que fez deles a consciência moral duma sociedade aparentemente condenada; resta saber se esta sociedade pode, afinal, ser salva, só porque não se vê uma alternativa).
Alguns dos ídolos dos anos setenta, como Barthes, Lacan e Boulez, em algumas frases perdem todo o seu dourado. A beleza do ininteligível de Lacan, a interessante frivolidade de Barthes, a música que se resume a um truque de duas notas, em Boulez, remetem-nos para um novo gongorismo, para as metástases sem má consciência do velho formalismo que estariam na origem da actual confusão de valores e do relativismo triunfante.
Não deixa de ser sedutora essa filiação do chamado pós-modernismo em arte e da perda de sentido de palavras como dever e honra.
No caso de Roland Barthes teríamos de falar em demonismo para explicar a sua espécie de sedução. Mas ele não foi o primeiro a ocupar-se da linguagem e a espreitar por detrás do cenário. A “desconstrução” começou porventura com a análise materialista da língua, percursora, por sua vez, da descodificação do genoma humano. Continuamos a inspirar-nos na natureza, mas mudámos de escala.
Os verdadeiros intelectuais não são mais actores do que o comum dos homens. E todas as teorias têm o seu lugar e exprimem sempre uma pequena parte da vida, ou apenas um ponto de vista pessoal, porque ninguém está no centro das coisas.
Mas a hierarquia (nas ideias) faz-nos falta e isso é uma decisão de cada homem.
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