segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

CORRUPTIO



A palavra corrupção nunca foi tão badalada. É normal dizer-se que toda a política está afectada por esse mal. Que é uma questão de preço, ou de ameaça,  o mais honesto vender-se. A história confirma, aliás, que o fenómeno não é de um tempo, nem de uma época, mas que é uma constante da sociedade humana, como se antes de ser um vício social, fosse uma espécie de lei inerente à complexidade humana que encontra um paralelo na entropia física. Se é assim, em vez de nos queixarmos do lugar que ocupamos no campeonato da corrupção, mais valerá prevenir a doença e contê-la dentro de limites toleráveis.

A famosa frase de Lord Acton que diz que 'todo o poder corrompe e o poder absoluto corrompe absolutamente' refere-se, porém, a outra coisa.

Na segunda parte da trilogia de Francis Ford Coppola, 'O Padrinho', assistimos ao processo que leva o sucessor de Vito Corleone, Michael (interpretado por Al Pacino), do crime organizado 'familiar' à solidão do poder absoluto, eliminando não só concorrentes, mas amigos e membros da própria família.

Não se trata já de prosseguir o objectivo de 'protecção' do grupo que prospera à margem da lei que começou por uma guerrilha sem tréguas contra os poderes instalados, até os suplantarem ou minarem pela corrupção e a violência.

Michael é o herdeiro descrente dessa tradição. O que vemos é a transformação do papel de 'padrinho', num destino trágico. É no teatro e na ópera, para não falarmos dos ecos de Tácito e dos outros historiadores da Roma Antiga, que encontraremos a 'ideia' de poder assumida pelo herdeiro mafioso. Nesse sentido, teremos, talvez, de deixar de falar em corrupção a propósito do 'poder absoluto'. Porque é um poder que verdadeiramente enlouquece. Corleone é um louco que se toma por Corleone, num tempo que já é o do mito do poder.

0 comentários: