quarta-feira, 24 de setembro de 2014

O AMIGO DESCARTES




fisioterapiaquintana.blogspot.com


Recebi há dias, através do e-mail, esta entusiástica reacção de um internauta a uma notícia sobre a doença de Alzheimer.

"Existe um termo médico que se chama ANOSOGNOSIA, que é a situação em que tu não te recordas temporariamente de alguma coisa. Metade dos maiores de 50 anos, apresentam algumas falhas deste tipo, mas é mais um facto relacionado com a idade do que com a doença.

Daí uma informação importante:

"Quem tem consciência de ter este tipo de esquecimento, é todo aquele que não tem problemas sérios de memória. Todos aqueles que padecem de doença de memória, com o inevitável fantasma de Alzheimer, são todos aqueles que não têm registo do que efectivamente se passa.

B. Dubois, professor de neurologia de CHU Pitié-Salpêtrière, encontrou uma engraçada, mas didáctica explicação, válida para a maioria dos casos de pessoas que estão preocupadas com os seus esquecimentos:

"Quanto mais se queixam dos seus problemas de memória, menos possibilidades têm de sofrer de uma doença de memória".

Como não podia deixar de ser, este método cartesiano de 'separar as águas' já deu lugar a alguma controvérsia. Mas que faz sentido e pode ser muito útil para afastar 'fantasmas', não tenho dúvidas sobre isso. Pelo menos, até que se prove que esta atitude, eventualmente, possa levar à desvalorização de sinais de uma doença efectiva.

Mas a verdade é que a consciência do que se passa connosco é a primeira coisa a desaparecer quando nos 'entregamos' aos salvíficos cuidados de um médico ou de uma instituição. Uma vénia a Ivan Illich e ao seu "Némesis Médica" é aqui obrigatória.

Assim, a maior parte de nós abdica, ou tem de abdicar 'naturalmente' da sua autonomia, o que tira qualquer utilidade ao método de Dubois (que não é evidentemente um método de cura, mas um repelente de falsos estados mórbidos).

No limite, a consciência é a humanidade. Afirmação que tem de ser moderada pela nossa iniludível necessidade de 'apagar todas as luzes', durante um terço das nossas vidas.

Lembram-se das larvas humanas no filme de Don Siegel ("The body snatchers")? É através desse estado que nos tornamos 'mutantes', em direcção não sabemos a quê.

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