quinta-feira, 29 de maio de 2014

OCIDENTE/ORIENTE


"Um só e mesmo gesto conduz-nos, numa mesma dinâmica, a raciocinar rigorosamente, a transformar com exactidão, justeza e fidelidade as coisas ditas físicas, e a decidir com medida e justiça, ter piedade do homem trágico - ecce homo -, aceitar o sobrevir do divino. O racional integra este gesto, e cai no criminal ou no corporatismo irrisório quando falta um só elemento a esta soma."

(Michel Serres)

 

Há uma tradição dualista, que se poderia chamar de cartesiana, que separa 'voluntariamente' a razão do sentimento (no sentido mais lato) e da intuição, tradição que, por exemplo, os trabalhos de António Damásio têm vindo a pôr em causa e, como se vê, o filósofo citado vai na mesma direcção.

Mas, na verdade, o dualismo é um método (como no 'Discurso do Método'), e não uma teoria do conhecimento, e é a ele (e à filosofia antiga da mesma linhagem 'idealista') que devemos todo o nosso progresso científico.

É o mesmo problema da 'aposta' pascaliana. Não podemos, decerto, provar a 'existência' de Deus, mas não foi isso que impediu que a respectiva crença tornasse o nosso mundo mais humano, para não dizer que o tornou possível.

Por outro lado, se obscurecermos o conceito da razão, poderemos aproximar-nos daquilo que o Oriente conhece desde sempre...

 

 

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