terça-feira, 30 de dezembro de 2014
A CAMISA DE NESSUS
segunda-feira, 29 de dezembro de 2014
UMA NOVA ATITUDE
Li, num estudo recente, que o consumo de tabaco está a diminuir entre os jovens. Isso não me surpreende nada, porquanto o que leva a contrair esse vício tem uma causa psicológica e o exemplo dos outros é fundamental para nos desresponsabilizarmos perante nós mesmos. Toda a informação negativa encontra uma resistência maior do que ela no comportamento colectivo, isto sem falar da dependência orgânica.
Basta um olhar sobre o cinema americano de há uns anos para compreendermos a função do cigarro na imagem do actor. Não foi o câncro que realmente matou Bogart, foi o ícone que tantos admiradores conquistou. Esse ícone era feito de uma ironia e de uma 'nonchalence' que a pose do fumador lhe dava.
Os Franceses têm uma expressão muito interessante a propósito da pose: "se faire une contenance". E, segundo o Larousse, "faire bonne contenance" quer dizer: "não se deixar desconcertar por um acontecimento imprevisto e desagradável." É o 'cool' dos Americanos. E é o que já significou o chapéu e a bengala. 'Exit smoking'.
Uma nova 'atitude' está a substituir, rapidamente, a pose do fumador. Não me refiro nem à higiene nem ao politicamente correcto. É o telemóvel.
Em qualquer lugar, onde uma pessoa não sabe o que fazer com as mãos e dantes puxava de um cigarro, o que se vê é alguém tirar logo o telemóvel do bolso. 'Manipular', 'adorar' esse pequeno objecto vindo do futuro é a pose moderna.
domingo, 28 de dezembro de 2014
A CONFISSÃO
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Christine Garnier e Salazar |
sexta-feira, 26 de dezembro de 2014
DESÍGNIOS
segunda-feira, 22 de dezembro de 2014
CAPITALISMO TOTAL
"Ou que, no essencial, governa a mundialização, é um liberalismo dogmatizado, rigidificado, um "capitalismo total", para retomar a expressão recente do antigo banqueiro Jean Peyrelevade.
Muito curiosamente, este liberalismo dogmatizado que surgiu depois da derrocada do comunismo tomou de empréstimo ao seu infeliz rival alguns dos seus dogmas mais perigosos, como se o morto tivesse agarrado o vivo. O economismo absoluto, o pretenso primado da economia financeirizada, postos como se sobre isso nada houvesse mais a dizer, ressuscitam por exemplo a velha dogmática marxista das infra-estruturas comandando as super-estruturas.(...)"
"(...) De maneira mais espantosa ainda, a ideologia do "capitalismo total" apropria-se do velho conceito hegeliano do "sentido da História" que foi durante muito tempo o apanágio - e a astúcia - dos regimes comunistas. Está-se a falar da pretensa inelutabilidade dos processos em curso e deste anúncio indefinidamente remetido para mais tarde dum sucesso ou duma "recompensa" que viria um dia, forçosamente, justificar os sacrifícios do presente dando-lhes retrospectivamente sentido."
"La grande inquiétude" (Jean-Claude Guillebaud)
Se ideias como o sentido da História e da sobredeterminação económica não morreram e podem ser assumidas hoje ainda, com uma pequena cosmética, pelo mais camaleónico dos sistemas é porque correspondem a um núcleo irredutível de religião.
O sentido da História, depois da ideia da salvação, não foi ainda destronado por nenhuma ideologia "laica". E o primado das condições inferiores é o reconhecimento da antiga Necessidade, da qual nem os imortais se podem subtrair.
domingo, 21 de dezembro de 2014
NÚMEROS E POÇÕES
sábado, 20 de dezembro de 2014
À ESPERA DE ORDENS
sexta-feira, 19 de dezembro de 2014
OFF OFF BAEDEKER
quinta-feira, 18 de dezembro de 2014
O CAVALO DE TRÓIA
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Talleyrand |
"A palavra foi dada ao homem para disfarçar o seu pensamento."
(Talleyrand)
Isso é evidente num diplomata, e é a melhor maneira de regular as relações entre estados, pela arte, em vez de o serem pelas emoções.
Mas uma consequência desagradável desta arte se estender ao domínio privado, é a de que toda a conversação deveria levar a um mortal aborrecimento.
O guião desses exercícios palavrosos seria sempre o de evitar a sinceridade, e toda a invenção por pouco que pudesse ferir a susceptibilidade dos outros. A aristocracia decadente é o melhor exemplo. Por isso o abade Pirard provoca o escândalo no salão do Marquês de La Mole ("Le Rouge et le Noir") com o seu amor à verdade e à justiça. Alain disse tudo o que havia a dizer sobre isso. A minha desculpa é que, hoje em dia, quase ninguém o lê.
Toda a crítica da diplomacia fora da política (mas onde acaba esta?) segue esta linha. A palavra não mudaria a opinião das pessoas, talvez por este 'politicamente correcto' 'avant la lettre' a ter deixado exângue.
Mas, recentemente, um estudo americano veio apresentar uma conclusão um pouco diferente. As pessoas podem não ligar à mensagem, mas dão importância ao mensageiro.
E isto faz todo o sentido. A fortaleza das nossas opiniões mais firmes, e até dos nossos princípios, não desce facilmente a ponte levadiça, perante as ameaças 'catalogadas', que se anunciam de muito longe. Mas a pessoa é única, não se sabe por onde é capaz de ter acesso ao nosso 'tesouro'. É ela o verdadeiro 'Cavalo de Tróia'.
quarta-feira, 17 de dezembro de 2014
ASTROLOGIA
"O conceito de fraternidade proposto pelos revolucionários de 1789 inspirava-se, de facto, consciente ou inconscientemente, no modelo monástico e religioso da Idade Média ocidental."
terça-feira, 16 de dezembro de 2014
SEMINARISMO
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Laurence Fishburne and Kenneth Branagh as Othello and Iago respectively |
"Faltou-lhe o calo de seminarista, que, afinal de contas, tornou dez por cento dos portugueses aptos a manifestar as incompatibilidades com o sistema, sem cair em contradição com ele."
"Ordens Menores" (Agustina Bessa-Luís)
Também é costume falar de espírito jesuítico a este propósito. Na história, abundam os exemplos de ex-seminaristas, como Estaline, dotados da capacidade de empregar o 'espírito contra ele próprio', que é talvez a melhor definição do 'satânico', na tradição cristã.
Ora, o 'calo' de que fala Agustina ultrapassa em muito a instrução eclesiástica. É uma analogia política que procura caracterizar um comportamento típico e uma certa maneira de pensar. A reserva mental, por exemplo, não é um exclusivo do jesuítismo. Iago, a personagem do "Othello", é um ser dúplice e acomodatício para não levantar suspeitas que prejudiquem a sua traição.
A versão do 'calo de seminarista' é mais benévola e idiossincrática. Satisfaz o vício da maledicência e, ao mesmo tempo, apropria-se dum 'bónus' de independência. Isto é mais 'arte de viver' do que outra coisa qualquer.
Por isso surpreende a fúria da nossa guerra civil.
segunda-feira, 15 de dezembro de 2014
IMITADORES
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Roberto Calasso |
Não é por isso que a ditadura é a pior desordem? O medo reduz os gestos ao mínimo, e todos se cingem às tácticas de sobrevivência. A imitação dos que sobrevivem é a lei.
domingo, 14 de dezembro de 2014
O TOTEM DO GLOBAL
http://tina.merandon.revue.com/business/photo4.shtml
Como, há umas décadas atrás, o movimento pelo Crescimento Zero, o discurso contra a globalização parece hoje enfrentar uma realidade avassaladora, uma poderosa corrente em que vêm confluir os caudais libertados pela revolução tecnológica e dos meios de comunicação e pelo fim das últimas barreiras (ideológicas) ao mercado total.
Segundo Jean-Claude Guilleband ("La grande inquiétude"), ninguém estaria interessado (no mundo ocidental, presume-se) em travar esse movimento através do totalitarismo, o fundamentalismo ou a polícia política. Mas a democracia, congenial a esta expansão do mercado, não deixaria de ser ameaçada por uma estirpe agressiva do liberalismo.
A velocidade a que tudo isso se passa torna o mundo cada vez mais pequeno e mais violento, com a intrusão das massas no habitat individual e decrescentes condições para o isolamento e a autonomia.
Não são precisas outras provas (para além do que está à vista) de que ninguém, nem nenhuma nação consegue controlar o ritmo da mudança e a sua direcção.
Desenha-se, pois, uma situação parecida com a do chamado "vazio de poder". E, como sabemos pela antropologia, nenhuma comunidade (o mundo está definitivamente a emergir como "aldeia global") dispensa a maldição do poder, nem ela se estabelece sem um crime simbólico.
A pergunta é: poderemos "queimar" essa etapa?
sábado, 13 de dezembro de 2014
PRAGMATISMO
sexta-feira, 12 de dezembro de 2014
A REPÚBLICA
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http://tresnormale.com/wp-content/uploads/2012/05/cassirer_black.jpg |
A ideia de Weil e de Cassirer, pelo contrário, permitem compreender o falso erro do filósofo grego. Ele que tanto gostava de enigmas e de mitos, e de, tantas vezes, deixar sem resposta uma questão, decerto apreciaria a redescoberta da 'República', como um palimpsesto.