domingo, 17 de março de 2013

A SUBLIMAÇÃO DA PINTURA

Federico Borromeo (1564 – 1631)

Como é sabido, na "Última Ceia" que se encontra no Refeitório de Santa Maria delle Grazie (Milão), Leonardo não utilizou a técnica usual e duradoura do fresco. O resultado dessa experiência com a têmpera, foi o da obra se deteriorar rapidamente, levando Vasari, menos de 60 anos depois, a considerar o trabalho uma ruína. O cardeal Federico Borromeo, para evitar que tudo se perdesse da 'reliquiae fugiente', encomendou que pintassem uma cópia.

Data do século passado o último grande restauro, o qual durou vinte anos.

As relíquias, por tradição, não 'fogem'. Elas já são o que fica depois do tempo que nos foge. Mas a 'Ultima Cena' era, evidentemente, mais do que uma relíquia. Era uma sombra da pintura original, com os rostos e alguns pormenores "irreconhecíveis". Mas quem pode dizer aqui que reconhece o quê? O apagamento das figuras desloca o trabalho da pintura para o símbolo do 'sobrenatural', mais verdadeiro do que qualquer artefacto. Não é crível que Leonardo premeditasse a imolação da sua obra ao tempo. A verdade é que, ao contrário da 'Gioconda' que o acompanhou até ao lugar da morte, em Amboise, e que ele nunca considerou 'acabada' (apesar de não se conseguir imaginar maior perfeição), a 'Ultima Cena' foi condenada à imaterialização.

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