sábado, 19 de janeiro de 2013

O ENSINO EM COCANHA







Eduardo Prado Coelho chegou a expressar a opinião, no "Público", de que a Pedagogia não é uma ciência. Dou-lhe razão, porque não é, de facto, e por serem, dum modo geral, intolerantes e fechadas ao diálogo as pessoas que se reclamam duma falsa atitude científica. Os métodos de ensino têm mudado ao sabor dos ventos, desde que se abandonou um modelo que todos reconheciam como anacrónico.

Para aumentar a confusão, a tecnologia tornou-se um problema dentro doutro, ao ponto de, em muitos casos, se terem invertido as relações naturais da educação.

Ainda no outro dia, ouvi a uma professora, na televisão, dizer que era preciso admitir, sem complexos, que os alunos, nessa matéria, sabiam quase sempre mais do que os professores. Depois, foram entrevistados alguns adolescentes, cada qual com o seu palmarés de horas de jogo no computador, observando um deles, candida e orgulhosamente, que os seus pais "não pescavam nada daquilo". Isto parece o país de Cocanha.

As crianças e os adolescentes sempre tiveram a sua competência lúdica, em geral, superior à dos seus progenitores, quanto mais não fosse por estes já se terem esquecido de que também foram crianças.

O que se passa é que existe, em grande parte dos adultos ( e sobretudo nos "resistentes à mudança", como se diz nas empresas), uma atitude supersticiosa em relação ao mundo dos computadores, em que se mistura o medo do desconhecido e a rendição acrítica ao prestígio da máquina inteligente que veio revolucionar as nossas vidas e tornar, da noite para o dia, todos as outras usanças e saberes obsoletos.

É preciso que a informática ( que é coisa totalmente diferente dos jogos), como qualquer disciplina, seja ensinada por quem sabe. E a relação entre quem ensina e quem aprende não pode ser, enquanto tal, uma relação entre iguais. É necessariamente assimétrica e envolve formas próximas do sagrado (na origem da palavra hierarquia), para o que, de resto, a diferença de idades é propícia.

A isto poderá objectar-se que sempre houve quem aprendesse sozinho e quem hoje possa aprender dum modo chamado interactivo com uma máquina.

O que nos leva a esta outra questão: aprender é receber informação, ou é muito mais do que isso?

A escola deve transmitir os "bytes" ou formar pessoas e cidadãos?

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