terça-feira, 19 de junho de 2012

OS GATOS

"Os Trácios são o povo mais poderoso do mundo, excepto, naturalmente, os indianos; e se tivessem um só chefe, ou se se pusessem de acordo entre eles, creio que não haveria quem se lhes comparasse, e eles de longe ultrapassariam todas as outras nações. Mas tal união é impossível para eles e não há meio de  a conseguirem. Nisso, pois, consiste a sua fraqueza."

("Histories", Herodotus)



A confirmar a crença de Heródoto, temos mais do que o ditado popular que reza que "união faz a força". Temos, nos tempos modernos, dois impressionantes exemplos, o da Alemanha e o da China.

Até Bismarck, a Alemanha dos principados (e tirando a Prússia),  não metia medo a ninguém e o povo era tão pacífico que se confundiam as suas ambições, apesar dos seus enormes artistas e filósofos, com as preferências da sua barriga. Esse povo timorato, acordado pelo trote da "História a cavalo", ou, mais prosaicamente, por Napoleão e as ideias da Revolução Francesa, ganhou todo um outro carácter com a unificação. Passou a ter de ser contido, tal era o seu apetite por "espaço vital" (lebensraum). Conhecem-se os enormes esforços das outras nações para o conseguirem. Consta até que teria sido essa espécie de policiamento o primeiro e secreto objectivo da União Europeia ( e  deve ser tomado como uma ironia da história que a "Europa", hoje, pouco mais seja do que isso, e ainda com um preço humilhante: o de que a Alemanha mande.)

O outro exemplo é o chinês. A ideologia marxista e a organização leninista deram a um povo, aparentemente passivo e há séculos à margem da evolução da humanidade, o "chefe" de que os Trácios de Heródoto precisavam.

A transição duma burocracia milenar como a dos mandarins para a era da revolução tecnológica encontrou aqui a sua formulação ideal. Temos agora, no antigo Império do Meio, uma burocracia "iluminada", já que se apoia na "verdade científica" do materialismo dialéctico, que, ao contrário da modorrenta elite do antigo regime, acredita na mudança "necessária" e que a esse princípio se adapta, indiferente à "cor dos gatos". O caso é que o capitalismo parece que "caça ratos", e a fórmula tem tido o êxito que se sabe.
 

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