quarta-feira, 20 de junho de 2012

DOGMA E INCERTEZA

Karl Popper


“Tive, pois, de suprimir o saber para encontrar lugar para a crença; e o dogmatismo da metafísica, ou seja, o preconceito de nela se progredir, sem crítica da razão pura, é a verdadeira fonte de toda a moralidade e é sempre muito dogmática...”

(Kant)



Karl Popper diz que, na ciência, não há conhecimento, mas conjectura (ou conhecimento conjectural). Essa afirmação, como se vê, é contrária ao que pensava Kant. O filósofo de Koenigsberg ainda sustentava um saber "certo", apesar de ter sido contemporâneo dum fenómeno social que abalou todas as certezas: a Revolução Francesa.

A certeza talvez só se possa salvar na matemática, mas aí já não estamos a falar da Natureza, nem das ciências naturais.

É, precisamente, porque não podemos ter a certeza sobre o que sabemos sobre a Natureza que a crença é uma condição 'sine qua non'. O contrário disso, isto é, a certeza,  tornar-nos-ia supérfluos, porque o conhecimento seria, por assim dizer, autónomo, o que não faz sentido.

Mas este é o fundo da ideia cartesiana. Depois de nos despojarmos de todos os preconceitos (como se isso fosse possível), chegaríamos à evidência. Mas o que é evidente não é, só por isso, real. Digamos que Descartes descobriu no acordo dos espíritos o ponto de partida para o conhecimento, o que é, desde logo, muito moderno.

Esse ponto de partida, donde se podem extrair todas as consequências lógicas, une os espíritos para além de todas as diferenças, mesmo a que no tempo de Péricles era a maior de todas. É o que se vê no "Menon" de Platão, quando, para provar a sua teoria das ideias inatas, Sócrates apela à inteligência dum jovem escravo.

O "dogmatismo" que é característico da moralidade, como diz Kant, distingue-se da crença no "conhecimento conjectural" porque se inspira no mundo das certezas possíveis (o da matemática) para "decretar" o que é bom para a comunidade. E como o caso de Sólon o atesta, pode não partir dum primeiro acordo, mas ser antes uma espécie de "contrato de adesão".

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