sábado, 2 de junho de 2012

O FURO NO DIQUE

Flickr ( Erich Ferdinand) 


"Por todos os meios, os estupefacientes, as ilusões, a sugestão, a fé, a convicção, algumas vezes simplesmente graças ao poder simplificador da estupidez, o homem esforça-se por criar um estado semelhante a esse. Ele crê nas ideias não porque aconteça que sejam verdadeiras, mas porque é "obrigado" a crer. Porque é "obrigado" a fazer reinar a ordem no seu coração. Porque tem de tapar por meio de uma ilusão esse buraco nas paredes da sua vida através do qual os seus sentimentos só pedem para fugir a todos os ventos."

"O Homem Sem Qualidades" (Robert Musil)



A ideia é que os sentimentos são o limiar precário da fusão do ser. Essa fronteira, porém, só pode manter-se enquanto lhe dermos um objecto.

O objecto é o que nos mantém "à tona". E todos os graus da crença ( e da convicção) são necessários para segurar o mundo dos objectos e os nossos sentimentos.

A 'despressurização' do simbólico ( quando não é possível tapar esse "buraco" nas paredes da vida) é também a dispersão do sujeito.

A ordem interior é, assim, o resultado duma resistência e duma contínua "reelaboração" que envolvem o corpo e o espírito, contra o cerco infatigável duma íntima realidade que significa a morte do indivíduo.

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