quarta-feira, 13 de dezembro de 2006

O PÓSTUMO INSTRUMENTO


www.amnistia.net/news/articles/pinochet.htm

Esta enorme frustração pelo ditador ter morrido sem uma sentença do tribunal deve ser levada à conta de quê?

Temos que acreditar, em primeiro lugar, que o homem de 91 anos é a mesma pessoa que cometeu aqueles crimes e que é capaz de plenamente assumir a responsabilidade por eles.

Mas o importante não é que ele conhecesse a sentença num momento de lucidez no meio do seu declínio físico, é que a Humanidade julgue historicamente os seus actos. Ou acaso Hitler não foi julgado pela "História" apesar de, enquanto Führer, não se ter sentado no banco dos réus?

É óbvio, além disso, que o homem, nem que vivesse mil anos, seria devidamente punido.

Julgar a extrema velhice pelo que fez é quase tão absurdo como julgar a criança pelo que há-de fazer. Vêm-me à memória as palavras de Wyatt Earp no filme de Ford, condenando o velho Clanton.

Assim, o que está em causa neste juízo falhado são as paixões ainda vivas (como se viu no seu funeral), e Pinochet não foi mais do que o póstumo instrumento.

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