domingo, 10 de agosto de 2014

O CINISMO DA INFORMAÇÃO

Peter Sloterdijk

"Importa saber por que o cinismo faz parte com a força das leis naturais dos riscos e das deformações profissionais daqueles cujo trabalho é produzir imagens e informações sobre a 'realidade'".

Sloterdijk fala duma dupla desinibição nos mass media:

"A primeira desinibição consiste em explorar sistematicamente, pelo jornalismo, as catástrofes dos outros."

"(...) o valor de uso das notícias depende, numa grande parte, do seu poder de excitação que as manchetes - é manifesto - aumentam consideravelmente."

A segunda desinibição "submerge as capacidades da nossa consciência duma maneira directamente ameaçadora, do ponto de vista antropológico."

"(...) Os nossos cérebros são treinados a sobrevoar dum olhar um campo de indiferenças duma amplitude enciclopédica - em que o tema não é indiferente em si mesmo, mas pela sua integração no fluxo de informações dos media."

"Critique de la Raison Cynique" (Peter Sloterdijk)

É preciso contrapor esta desinibição à noção de limite tal como a compreendiam os Gregos.

O cinismo é a consciência de se saber muito bem que aquilo que passa por ter valor, e que fingimos que tem, realmente já o perdeu ou nunca o teve. É o sorriso de dois charlatões que se cruzam na cidade.
As cerimónias religiosas ligadas à morte são o exemplo acabado desse segundo pensamento, quando vemos a parte que cabe no culto aos declarados não-crentes.

O cínico coloca aspas em tudo o que diz ou ouve dizer, e é um sintoma daquilo que se convencionou chamar de crise de valores, a redução acelerada do campo dos conceitos ainda livres de aspas.

Mas como opor medidas anti-inflacionistas aos media e à publicidade?

Eles vivem da desvalorização...

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